domingo, 11 de julho de 2010

Biodiesel ou eléctrico: mutuamente exclusivos?

Um dos grandes problemas energéticos do mundo actual é o fornecimento de energia para o setor dos transportes. Com cerca de 6 milhões de veículos este setor representa em Portugal perto de 36 % do consumo de Energia Final e é a segunda maior fonte de emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE) responsável por 30% das emissões.

A tecnologia mais disseminada atualmente contínua a ser basicamente a mesma dos últimos cem anos: o motor de combustão interna com utilização de combustíveis fósseis.

Apesar dos desenvolvimentos tecnológicos que permitiram reduzir os consumos energéticos dos automóveis, o problema energético na mobilidade afigura-se como um dos maiores desafios no que respeita à redução da intensidade de carbono.

Obviamente que seria redutor dizer que a solução está apenas nos veículos ou na sua tecnologia, uma vez que a mobilidade deve ser abordada como um problema organizacional e de gestão dos espaços urbanos, que deveriam funcionar de forma integrada de forma a reduzir e otimizar as deslocações diárias, interligar os locais de residência com os do trabalho de forma eficiente e coletiva e permitir o acesso a formas alternativas de mobilidade. No entanto, a tecnologia associada à mobilidade singular ou coletiva é também um dos pilares fundamentais da solução.

Dito isto passamos a analisar dois dos desenvolvimentos tecnológicos com maior relevância nos últimos anos no capítulo da mobilidade.

Combustíveis alternativos

Uma das potenciais evoluções nos veículos atuais que teve maior evolução na primeira década de 2000 foi a procura de fontes alternativas de combustíveis, preferencialmente compatíveis com a maior parte dos equipamentos de conversão existentes.

No princípio da década identificaram-se três potenciais fonte de combustíveis alternativos:
• Os biocombustíveis
• Gás natural
• Hidrogénio

Os primeiros dois com nítidas vantagens sobre o Hidrogénio, devido à sua possível utilização em simultâneo com motores de combustão interna convencionais. Os biocombustíveis, ainda que condicionados a misturas de pequenas percentagens, tomaram a dianteira quanto às políticas Europeias e Nacionais.

A utilização de biocombustíveis apresenta vantagens ao nível do processo logístico, sendo essencialmente o mesmo dos combustíveis atuais, e neutralidade em relação ao CO2 (o Carbono contido na biomassa foi capturado na atmosfera).

Desta forma estabeleceram-se metas Europeias de incorporação de biocombustíveis, principalmente de biodiesel, uma vez que o diesel é o combustível com maior consumo e o biodiesel pode ter origem endógena sendo mais competitivo que o bioetanol, que perspectivavam valores de 5,75% de incorporação até 2010 (Directiva 2003/30/CE), tendo Portugal fixado um valor ainda mais elevado de 10% até 2010, algo que não alcançou (hoje é cerca de 7%).

No entanto as alternativas como os biocombustíveis tem custos ainda elevados, comparado com os combustíveis convencionais e limitados à sua produção no que se refere à disponibilidade de terras agrícolas. Em meados de 2008, a subida vertiginosa dos preços dos combustíveis e a procura desequilibrada de soluções de substituição colocaram em evidência uma das limitações dos biocombustíveis, designados, de primeira geração (os que têm como origem bens agrícolas alimentares como os cereais, soja, girassol, entre outros) é o risco da distorção dos valores de mercado destes bens , i.e., os custos dos alimentos passarem a ser significativamente influenciados devido à procura das fontes como matéria prima para combustível.

Passada a crise do petróleo de 2008, entrou-se logo a seguir na crise económica e financeira, com a respectiva queda dos preços do petróleo que, aliada à preocupação “alimentar”, fez com que o mercado dos biocombustíveis e a forma como são produzidos pudesse vir a ser repensado, principalmente na ótica do desenvolvimento da, designada, segunda geração de biocombustíveis (com origens não alimentares).


Os veículos eléctricos
A solução do veículo eléctrico trata-se da mudança de um paradigma, mudando radicalmente a tecnologia de impulsão dos veículos. Em termos tecnológicos, os veículos elétricos podem ser divididos em pelo menos três tipos:

- Veículos Elétricos a bateria (VE): consistem essencialmente em veículos equipados com um conjunto de baterias, carregados por eletricidade que é fornecida a um motor elétrico, que por sua vez transforma a energia elétrica em energia mecânica, movimentando a viatura.

- Veículos Elétricos Híbridos (VEH): integram duas fontes de energia num único veículo, combinando um veículo a combustão convencional com um veículo de motor elétrico. A bateria armazena a energia elétrica produzida pelo motor de combustão, fornecendo-a ao motor elétrico que a transforma em energia mecânica. O motor de combustão, que tem como fonte um reservatório de combustível convencional, pode accionar o gerador para carregar a bateria ou diretamente as rodas.

- Veículos a Pilha de Combustível (VPC): tem como fonte de energia a eletricidade gerada por uma pilha de combustível. Estes veículos utilizam como combustível hidrogénio puro ou através de catálises que retiram o hidrogénio contido noutros combustíveis emitindo vapor de água, para fazer mover o veículo.

Os primeiros veículos comerciais de série foram os Híbridos, devido principalmente à sua autonomia e flexibilidade. Não obstante os custos dos mesmos ser uma das grandes limitações a uma maior penetração no mercado, estes veículos são vistos como o primeiro passo para a alteração do paradigma.

Mais recentemente alguns construtores automóveis e governos apontam como a solução do futuro veículos totalmente elétricos. Infelizmente as soluções totalmente elétricas estão longe de ser uma realidade totalmente consensual. Em primeiro lugar porque a tecnologia apresenta algumas limitações, sobretudo no que diz respeito às baterias e à autonomia dos VE. Também não existem verdadeiros VE utilitários de série no mercado Europeu assim como a infra-estrutura para recarregar os futuros VE ainda é um projeto no papel e principalmente, os VE só serão “Emissões Zero” ou “Neutros em Carbono” se a produção da eletricidade usada pelos mesmos for também sem emissões, i.e., com base em energias renováveis, nuclear ou o chamado “Carbono limpo” (tecnologias de produção de energia elétrica com captura e armazenamento de carbono) o que está muito longe de ser uma realidade.

Assim o problema fundamental continua por resolver: qual será a fonte de energia primária para poder produzir a energia necessária para os veículos? Os Combustíveis fósseis continuam a ser a base da produção energética em Portugal. A incorporação das renováveis atualmente na ordem dos 40% (conforme as estatísticas) apenas tem em conta o perfil de carga atual sem os “futuros” carros elétricos. Surge ainda a ideia do nuclear, limpo de CO2 mas com os riscos ambientais e custos “escondidos” que se conhecem e o “Carbono limpo” é uma tecnologia ainda em desenvolvimento.

Os veículos elétricos são de fato uma potencial ferramenta e parte da solução para reduzir as emissões e poluição atmosférica, reduzindo o impacte da sua utilização no meio ambiente, mas para além do ruído mediático, é necessário ter em conta o ciclo de vida do produto e as fontes energéticas, e não apenas o veículo em si. Além disso podem ser um pilar da requerida armazenagem da “rede inteligente” para os recursos Renováveis, não despacháveis e não previsíveis. Em vez de se ter um armazenamento gigantesco as baterias do VE seriam o equivalente descentralizado.


Soluções

Na prática não há uma solução milagrosa e não deve ser o objetivo procurá-la. O que é necessário é uma série de medidas que devem ser articuladas em conjunto, passando pela redução da necessidade de utilizar o carro individualmente, pela redução efetiva da sua utilização, pela educação ambiental, pelo aumento da eficiência das tecnologias convencionais, pelo surgimento de alternativas, sejam de fontes de combustíveis, sejam de tecnologias novas de mobilidade e por um desenvolvimento de políticas mobilidade efectivas.


PER

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